quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Órion - Um Gigante Caçador nos Céus

A constelação de Órion, facilmente identificável, é uma das maiores dentre aquelas dos céus hibernais no Hemisfério Norte e estivais no Hemisfério Sul (veja a foto).
Órion (O Caçador), é visível praticamente de todas as regiões habitadas da Terra (entre as latitudes de + 85º e – 75º), tem a forma de uma ampulheta (veja a foto) e é seccionada pelo Equador Celeste; assim, ela pertence a ambos os Hemisférios Celestes. A época para sua melhor visualização ocorre em Janeiro, às 21.00 hr.
O nome Órion viria do sumério Uru – Anna (a Luz do Céu), título do mítico herói caldeu Tamuz, filho do Sol, que se teria tornado mais tarde o Adônis grego.
Segundo uma das versões da mitologia grega, Órion filho de Netuno e da ninfa Euridale, era um gigante caçador, amado pela deusa Ártemis, mas odiado por Apolo, irmão desta. Em certa ocasião, Apolo ao perceber que Órion vadeava pelo mar apenas com a cabeça fora d´água, desafiou a irmã, exímia caçadora, a acertar o alvo que se movia. Desafiada e enganada, Ártemis disparou uma seta que certeiramente atingiu Órion, matando-o. Esta deusa, desolada e em meio a lágrimas, pediu a Zeus que colocasse o seu amado entres as estrelas.
Uma outra versão do mito relata que Órion morreu pela picada de um Escorpião Gigante enviado por Geia, deusa da Terra, preocupada com a ameaça feita pelo Caçador, de extinguir todos os animais do nosso planeta.
Órion e Escorpião foram transformados em constelações pelos deuses do Olimpo, mas colocados em pontos afastados nos Céus para evitar novas refregas; assim, nunca são vistos simultaneamente e apenas quando um deles declina é que o outro se levanta.

Iconografia de Órion

Na iconografia européia, Órion é representado por uma figura antropomorfa segurando uma clava, e que com a outra mão sustenta um escudo feito com couro de leão (veja a foto); de seu cinto (Cinturão de Órion) pende uma espada (Espada de Órion). Nas suas proximidades encontram-se seus dois sabujos (Cão Maior e Cão Menor) e o rio Eridano; aos seus pés acham-se os animais por ele caçados, a Pomba (Columba) e a Lebre (Lepus).

Astronomia da constelação de Órion

A mítica figura do Caçador Órion é a constelação mais bela e a mais conhecida do nosso céu estival. Ela é formada por sete estrelas principais, das quais cinco delineiam um grande trapézio.
Betelgeuse (alfa de Órion), uma estrela de cor avermelhada, a segunda mais brilhante de Órion, a 10ª ou a 12ª em luminosidade dos céus; não obstante ter a designação de alfa na classificação de Johann Bayer (1572 – 1625), ela não é mais brilhante que Rigel (beta de Órion).
Esta estrela representa o ombro direito do Gigante e está situada a apenas 7º acima do Equador Celeste (declinação de +7º), pertencendo portanto ao Hemisfério Norte. Betelgeuse é uma estrela variável cuja Magnitude Visual (0,58) oscila de maneira semi-regular.
Rigel (beta de Órion), a estrela mais brilhante de Órion, a sexta mais luminosa dos céus, de um brilho azul-esbranquiçado, situa-se diagonalmente oposta à precedente e representa o pé ou o joelho esquerdo do Caçador. Ela está localizada 8º abaixo do Equador Celeste (Declinação de – 8º) e sua magnitude visual é de 0,18.
Saiph (kappa), que representa o joelho ou o pé direito do Gigante, é 51ª estrela mais brilhante dos Céus e sua Magnitude Visual é de 2,05.
Bellatrix (gamma), a “Guerreira”, branco-azulda, representa o ombro esquerdo do Caçador e a 3ª estrela mais brilhante desta constelação é 27ª estrela mais brilhante do Firmamento, e tem Magnitude Visual de 1,64.
Meissa (lambda) representa a cabeça do Caçador Celeste.

Astronomia do Cinturão de Órion

No centro deste trapézio encontram-se três estrelas Alnitak (zeta), Alnilan (epsilon) e Mintaka (delta) dispostas obliquamente, em linha reta e igualmente espaçada que constituem o Cinturão de Órion. Elas são popularmente conhecidas como as Três Marias ou os Três Reis Magos. A estrela mais ao norte no Cinturão, Mintaka, fica muito próxima do Equador Celeste e o acompanha pelos Céus.

Equador Celeste

O Equador Celeste se constitui num ponto de referência muito importante em astronomia, porque divide os Céus em dois Hemisférios Celestes, o do Norte e do Sul.
O Equador Celeste ao passar ao norte de Mintaka secciona Órion em duas metades: uma localizada no Hemisfério Celeste Norte (setentrional) e outra situada no Hemisfério Celeste Sul (meridional) (veja a foto). Rigel e Saiph localizam–se no Hemisfério Celeste Sul e Betelgeuse, Bellatrix e Meissa situam-se no Hemisfério Celeste Norte.

Astronomia da Espada de Órion

Próxima ao Cinturão, observa-se a olho nu, a Espada de Órion, um asterismo formado por três estrelas de fraca luminosidade. A “estrela” do meio, em realidade, é a Grande Nebulosa de Órion (M 42), um “berçário estelar”.
Na Austrália, os asterismos do Cinturão e da Espada de Órion são chamados popularmente de “The Pot” (a Caçarola ou Panela) porque lembram este utensílio de cozinha.
Tal como acontece com as demais constelações concebidas pelos povos do Hemisfério Norte, Órion é percebida de “cabeça para baixo”, pelos habitantes do nosso Hemisfério.

Órion, uma baliza dos Céus

Órion limita-se com Touro (norte e oeste), Lebre (sul), Gêmeos e Unicórnio (leste) e Eridano (oeste).
As estrelas de Órion são importantes pontos de reparo que auxiliam na localização de constelações vizinhas.
- Sírio (Cão Maior) é localizada através do prolongamento sudeste de uma reta que passa pelo Cinturão de Órion (Três Marias).
- Aldebrarã (Touro) é localizada através da extensão Noroeste de uma reta que passa pelo Cinturão de Órion (Três Marias).
- Castor e Pólux (Gêmeos) são localizadas pela extensão de uma reta que une Rigel a Betelgeuse.
- Prócion (Cão Menor) é encontrada através de uma reta que liga Bellatrix a Rigel.
- Uma reta partindo de Saiph (kappa de Órion) e passando por Meissa (lambda de Órion) após passar em Elnath (beta de Touro ou gamma de Cocheiro) atinge Capella (alfa de Cocheiro), de cor amarelada, a 6ª estrela mais luminosa do céu.
Estes dados astronômicos são importantes porque também permitem, até um certo ponto, correlacionar certos glifos da itaquatiara com as estrelas de constelações, vizinhas a Órion. Foi deste modo que identificamos os petróglifos que corresponderiam a Sírio e às Plêiades.

Órion e a Arqueoastronomia

Órion no Egito dos faraós

            As chamadas “frestas de ventilação” da câmara do faraó Queóps ou Khufu (2589 – 2566 a.C.) na Grande Pirâmide de Gizé, foram alinhadas com as estrelas do Cinturão de Órion.
Os egiptólogos inglêses Robert Bauval e Adrian Heinemann acreditam que as Pirâmides foram implantadas de modo a reproduzir a disposição das estrelas do Cinturão de Órion (Três Marias).

Órion na Alemanha Paleolítica

            Em 2003, o pesquisador alemão Michael Rappenglueck após examinar uma pequena escultura (3,8 cm) do paleolítico europeu, encontrada em 1979, declarou ter identificado ali a mais antiga representação mundial de uma constelação, feita entre 32000 e 38000 anos atrás. O ponto de partida foi um baixo-relevo de uma figura masculina de cintura afinada, braços erguidos e pernas afastadas compatíveis com uma figuração de Órion; outro dado importante para esta interpretação foi o fato de a perna direita ser mais curta que a esquerda.

Órion entre os nossos taulipangues

Segundo o etnológo germânico Theodor Koch–Gruenberg (1872 – 1924) os taulipangues (taurepangues) de Rondônia referiam–se lenda do perneta Jilicavaí ou Jiliguaupu que tendo uma das pernas decepadas pela esposa adúltera subiu aos céus para tomar parte numa constelação formada pelas Plêiades, Touro e Órion. É possível que esta coincidência entre os aurignacenses e os índios brasileiros tenha um substrato astronômico comum, pois se as estrelas que partem de Betelgeuse sugerem um longo membro inferior, o que não acontece com Bellatrix.

As estrelas de Órion na itaquatiara de Ingá

Como dissemos anteriormente, no painel horizontal da itaquatiara de Ingá encontra-se um conjunto de glifos estelares compatível com uma representação da constelação de Órion (veja a foto).
Atualmente, Rigel (beta de Órion) com Magnitude Visual de 0,112, é mais brilhante que Betelgeuse  (alfa de  Órion), com  0,58 de  Magnitude Visual.
Segundo a nossa identificação (veja as fotos) destas estrelas na itaquatiara de Ingá, a estrela mais brilhante ali representada é Betelgeuse e não Rigel . Tudo indica que este deveria ser o aspecto de Órion, por ocasião da confecção da itaquatiara.
Diante deste fato, lembramo-nos de um registro feito pelo astrônomo grego Hiparco (190 a.C.–125 a.C.) indicando que pelo menos há 2 mil anos (veja o esquema), Betelgeuse superava a luminosidade de Rigel.
Esta disputa entre Rigel e Betelgeuse pelo primeiro lugar de luminosidade em Órion, ocorre por conta da variabilidade do brilho desta última.
Ante o esposto, cabe a pergunta: os astrônomos de Ingá teriam sido contemporâneos de Hiparco?

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário