quarta-feira, 6 de outubro de 2010

As Plêiades
             “Um enxame de vagalumes emaranhados num trancelim de prata”, assim o poeta Alfred Tennyson (1809 – 1892) descreveu as Plêiades.
As Plêiades são um notável aglomerado estelar aberto da constelação de Touro (veja figuração), popularmente conhecidas como “As Sete–Irmãs” e cientificamente como M45 (objeto número 45 de Messier). Elas são universalmente observadas desde a mais remota Antiguidade.
Segundo a mitologia helênica, as Plêiades, meia – irmãs das Híades eram filhas de Atlas e da ninfa Pleione, filha do Oceano. De acordo com uma das várias versões do mito elas teriam sido transformadas em estrelas após cometerem suicídio coletivo, desgostosas com a injusta pena imposta por Zeus a seu pai, partícipe da rebelião dos Titãs, de sustentar o Mundo sobre os ombros.
Este aglomerado estelar é também vulgarmente conhecido como as Sete-Irmãs, Sete-Estrelo, Sete-Cabrinhas ou Eixu / Exu (Enxame de Abelhas).

As Plêiades na Arqueoastronomia

Os povos antigos descobriram nos ciclos anuais de certas estrelas e constelações um confiável “relógio celeste” por meio do qual poderiam computar a marcha do tempo. Também notaram que os cíclicos movimentos estelares estavam relacionados com uma série de fenômenos meteorológicos e biológicos (estações do ano, frio, calor, chuvas, inundações, estio, fertilidade da terra, floração, acasalamento de animais, etc.). Os povos primitivos atribuíram diretamente aos astros as causas das variações sazonais e de outros fenômenos climáticos ou naturais.
Em várias culturas, o nascimento helíaco das Plêiades serviu para assinalar o início de um novo ano e propiciar em consequência, a computação do tempo.

As Plêiades nos céus da Antiguidade

As Plêiades foram universalmente observadas deste a Pré-História, nos cinco Continentes, segundo vários estudos arqueológicos, arqueoastronômicos e etnográficos. Abundantes registros astronômicos sobre as Sete Irmãs foram encontrados na Babilônia, Grécia Antiga, Egito dos Faraós, assim como na China, Japão e Índia Antigos. Nos Anais Chineses de 2357 a.C. há citações sobre as Plêiades. O Partenon, da Acrópole de Atenas, tal como vários outros templos gregos estavam astronomicamente alinhados com as Plêiades. No Velho Testamento há referências às Plêiades, em Amós (5, 8), Jó (9, 9) e Jó (38, 31).
Nas Américas, as Plêiades foram observadas pelos Sioux, Navajo, Astecas, Maias, Incas e outros aborígines.
Há uma farta documentação etnográfica indicando que várias nações indígenas do Brasil (tupinambás, tapuias, tembés, guaranis, etc.) usavam o nascimento helíaco e poente helíacos das Sete-Irmãs como indicadores de inverno e estio.

Estrelas das Plêiades



As nove estrelas mais brilhantes das Plêiades são (veja a foto): Asterope, Merope, Electra, Maia, Taygete, Celaeno e Alcione (as Plêiades propriamente ditas) e seus pais Atlas, e Pleione.

Visibilidade das Plêiades

A grande visibilidade e o cintilar a olho nu das Plêiades, certamente assegurou-lhes um lugar proeminente na astronomia, folclore e liturgia de civilizações pretéritas e atuais.
Seis estrelas das Plêiades são facilmente percebidas a olho nu. Alguns observadores de maior sensibilidade visual chegam a detectar sete, oito ou nove, havendo registros confiáveis de até 19 estrelas.

Nascimento e Poente das Estrelas

Astronomicamente há oito tipos de nascentes e poentes das estrelas, mas sob o ponto de vista arqueoastronômico interessam–nos apenas quatro, passíveis de observação pelos homens primitivos: nascimento e poentes helíacos e nascimento acrônico e poentes cósmico aparentes.
O nascimento helíaco ocorre no primeiro dia em que a estrela é vista fugazmente no horizonte oriental (leste) antes do nascer do Sol.
Nos dias que antecedem o nascimento helíaco, o Sol nasce antes dela e seu fulgor impede sua visualização. Dias mais tarde, o Sol e a estrela nascem ao mesmo tempo (nascimento cósmico), mas a luz solar ainda não permite que a estrela seja vista. Finalmente, o Sol move-se o suficientemente distante para permitir que, pela primeira vez no ano, a estrela possa ser vista.
O intervalo entre dois nascimentos helíacos corresponde ao ano sideral, equivalente a 365d, 6h, 9m, 10s, um pouco mais longo que o ano trópico ou solar.
O poente helíaco ocorre no crepúsculo vespertino quando pela última vez a estrela é vista se pondo. No crepúsculo seguinte a estrela passará abaixo do horizonte quando ainda há bastante luz solar para ser vista. Atualmente o poente helíaco das Plêiades ocorre em 10 de maio.
O nascimento acrônico aparente ocorre no crepúsculo vespertino quando pela ultima vez a estrela é vista nascendo. No crepúsculo seguinte a estrela nascerá enquanto ainda há bastante luz solar para ser vista.
O poente cósmico aparente ocorre no crepúsculo matinal quando pela primeira vez a estrela a estrela é vista se pondo. No crepúsculo anterior a estrela não conseguiu atingir o horizonte oeste antes que a luz solar a tornasse invisível.

Ciclo anual das Plêiades

O nascimento helíaco das Plêiades atualmente ocorre em 6 de junho e o seu poente helíaco acontece em 10 de maio.
Em meados de maio, o Sol está alinhado entre a Terra e esta constelação. A proximidade do Sol com as Plêiades, faz com que estas obviamente desaparecem do Céu noturno, mas em Junho elas nascem heliacamente. Quando a Terra está alinhada entre o Sol e as Plêiades, durante o mês de Novembro, elas podem ser vistas praticamente durante toda a noite.

Culminação das Plêiades

A culminação de uma estrela ocorre no instante em que esta ao cruzar o meridiano do observador, atinge a maior altura sobre o horizonte. Este fenômeno acontece apenas uma vez por ano.
As Plêiades atualmente culminam à meia-noite, no ou em torno de 21 de novembro; nesta data elas estão em oposição ao Sol e nascem a leste no poente solar e põem-se a oeste no nascente solar.

Passagem zenital das Plêiades no Antigo México

No final de cada ciclo calêndrico de 52 anos, os Astecas aguardavam ansiosamente a passagem das Plêiades pelo zênite (ponto celeste diretamente acima do observador), à meia-noite, um sinal auspicioso de uma garantia de que o Cosmo não se extinguiria e que se iniciaria um novo ciclo temporal.

As Plêiades e os Maias

A maioria das cidades maias mostra evidências de terem sido construídas sob orientação astronômica, tal como aconteceu com Teotihuacã, cujas avenidas estão alinhadas com as Plêiades. Alguns observatórios astronômicos maias tinham janelas voltadas para o poente das Plêiades. Para os maias, o início da época de plantio, era indicado pelo nascimento helíaco das Plêiades.

As Plêiades na França de 17.000 anos atrás

O pesquisador alemão Michael Rappenglueck identificou entre as pinturas da Gruta de Lascaux (15.000 a.C.) uma figuração das Plêiades (veja), logo acima da omoplata de um touro desenhado próximo à entrada da caverna; outros pontos escuros no corpo do animal representariam as demais estrelas vizinhas as Sete–Irmãs.

As Plêiades na Alemanha da Idade do Bronze

            Em 1999 foi descoberto em Nebra (veja a figuração), um artefato circular, de bronze, com 32 cm de diâmetro. Numa das faces estão representadas 32 estrelas, o Sol e a Lua. Vários cientistas afirmam que o “Disco de Nebra” é um avançado instrumento astronômico, usado há 3.600 Anos, na Idade do Bronze (início entre 2000–1700 a.C. e final entre 1300–700 a.C.). Neste artefato, as Plêiades estão representadas por 7 pequenos círculos agrupados.

As Plêiades e os Tupinambás do Maranhão

O frei franciscano Claude de Abbeville (? – 1632) que missionou no Maranhão, à época da França Equinocial (1612 – 1615), escreveu a “História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e Terras Circunvizinhas” (1614). Em seus escritos informa–nos que os Tupinambás daquela região eram familiarizados com as Plêiades, que chamavam de Eixu / Exu (Ninho de Abelhas ou Vespeiro); para estes silvícolas, seu aparecimento prenunciava a época de chuvas.

Uma festa tapuia para a Ursa Maior ou para as Plêiades?

O cronista batavo Gaspar Barléu (1584–1648), em sua “História dos Feitos Recentemente Praticados Durante Oito Anos no Brasil”, sobre o Brasil Holandês sob o Conde Maurício de Nassau (entre 1637 e 1644), assim escreveu sobre os nossos índios tapuias:
“Em lugar de Deus, adoram os tapuias a Ursa Maior ou o Setentrião, a que nós, pelo seu feitio, chamamos com o povo, a Carreta. Quando de manhã vêem essa constelação, alvoroçam-se de alegria e dirigem-lhe cantos e danças, etc.”. Anualmente, durante o estio, reúnem-se em bandos e exércitos distintos para bailes, concursos de lanças e outros jogos consagrados ao Setentrião. Dura a festa três dias”.
Neste relato parece-nos que “de manhã”, pode significar um nascimento helíaco.
Embora a Ursa Maior, uma constelação que gira em torno do Pólo Celeste Norte, ser observável nas latitudes do Nordeste brasileiro (a sua visibilidade ocorre nas latitudes terrestres entre + 90º e - 30º) e de não ser estranha aos índios amazônicos, causa-nos certa admiração ser adorada pelos tapuias nordestinos, “em lugar de Deus”.
Embora Barléu não cite a fonte desta informação, acreditamos que ela lhe teria sido fornecida pelo alemão Jacó Rabi (mentor da hedionda “chacina de Cunhaú”), Conselheiro da Companhia das Índias Ocidentais, que convivera com os tapuias.
As Plêiades (Sete-Irmãs) tal como a Ursa Maior (Septem Triones = Sete Bois) têm ambas sete estrelas principais e não residiria aqui nesta semelhança, a provável troca de nomes?
As Plêiades não seriam um objeto astronômico de observação bem mais perceptível a olho nu pelos nossos silvícolas, que a Ursa Maior? Elas estão bem mais próximas da Eclíptica e, além disso, sua declinação (latitude celeste) é de + 24º, bem menor que aquela da Ursa Maior (+ 55º), dado relevante para um observador no Hemisfério Sul.

Localizando as Plêiades nos Céus

Tanto no Céu (como nos Atlas Celestes), as estrelas das Híades e das Plêiades podem ser localizadas prolongando-se na direção noroeste uma linha imaginária partindo das estrelas do Cinturão de Órion (Três Marias).

As Plêiades em Ingá

Na itaquatiara de Ingá, cremos que as Plêiades estão representadas por oito pequenas mossas (depressões hemisféricas) agrupadas em rácimo (cacho) de uva, de maneira muito similar (veja a foto) àquelas da Grutas de Lascaux e do Disco de Nebra.
Uma imagem visual aproximada deste glifo seria aquela que resultaria se alguém com a mão fechada imprimisse num cimento ainda fresco as pontas dos dedos (no caso específico, de 8 dedos). Obviamente, este é um aspecto meramente descritivo, sem qualquer vinculação com a feitura original.
Lamentavelmente as mossas (“depressões capsulares”) estão atualmente bastante deterioradas e no limite da percepção visual. Deploramos amargamente a perda irreparável de algumas fotos de nosso acervo, tiradas há 50 anos quando ali ainda eram bem nítidas as Plêiades.   
             O local do painel horizontal da itaquatiara onde se encontra a figuração das Plêiades está em harmonia como a “topografia” astronômica, sobretudo em relação à vizinha constelação de Órion, que abordaremos em outra ocasião.

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